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Injustiça climática e movimentos sociais: a oportunidade da América Latina
Por: César Rodríguez Garavito (Se retiró en 2019) | Diciembre 19, 2013
Fracassou a cúpula sobre mudança climática em Varsóvia. Não adiantaram os soluços nem a greve de fome do representante filipino. “É hora de acabar com esta loucura”, disse aos destemidos governantes do mundo, referindo-se ao aquecimento global que agravou o impacto do tufão Haiyan, que deixou sua família danificada.
Também não comoveu os delegados estatais a retirada massiva de mais de 800 ongs de todos os continentes, como forma de protesto pela falta de vontade política para chegar a um acordo que detenha o aquecimento antes de ultrapassar os limites que separa o grave do catastrófico (dois graus centígrados acima da temperatura prévia à revolução industrial).
Não foi afetado o consenso científico mundial, que acabava de sintetizar o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da onu. Talvez porque o que diz é difícil de digerir: ultrapassaremos o limite dos dois graus e chegaremos aos quatro; com isso, 50% das espécies do planeta não sobreviveriam e, para 2030, morreriam anualmente cerca de um milhão de pessoas.
Por isso a cúpula, que devia aplicar mecanismos de financiamento para emergências climáticas como a das Filipinas e esboçar um tratado que substituísse o de Kyoto quando expirar em 2015, acabou adiando as decisões até o próximo ano.
Mas nem tudo foi em vão. Em meio da acrimônia e da decepção de Varsóvia, saíram à luz duas realidades que podem dar um giro ao problema. A primeira é a evidência da injustiça climática: a constatação de que os países pobres, os que menos têm poluído, são ao mesmo tempo os que sofrem os efeitos mais graves do aquecimento global e os que têm menos recursos para enfrentá-lo. A ameaça de retirada de 133 delegações de países pobres serviu para denunciar o incumprimento dos países desenvolvidos, que se recusam a financiar um fundo de atendimento de desastres e adaptação aos efeitos do aquecimento global, prometido em cúpulas anteriores. Com a menção do tema no precário acordo final, a injustiça climática ficou instalada como um dos principais desafios morais e sociais deste século.
A outra novidade alentadora é que a sociedade civil está acordando. Na Polônia ficou claro que, sem pressão cidadã, os governos não chegarão a um pacto. Os países abastados como os eua, Japão e Canadá, que se negam a fixar limites a suas emissões de carbono, estão paralisados. E também os emergentes como a China, Índia e Brasil, que já são responsáveis por boa parte do aquecimento. E os menos ricos como a Colômbia, Equador ou Venezuela apostam seu futuro no carvão ou no petróleo.
Diante de tudo isso, os cidadãos estão tomando a iniciativa: os cientistas estão aparecendo nas câmeras e nas ruas para fazer soar o alarme com seus dados; os estudantes estão exigindo das universidades vender as ações que tenham em companhias de combustíveis fósseis; os ativistas de Greenpeace arriscam a vida para impedir que a Rússia comece a perfurar poços petroleiros no Ártico; as ongs ambientalistas, indígenas e de direitos humanos foram embora, mas prometeram voltar à cúpula no próximo ano.
O encontro é em Lima, em novembro de 2014; a última ocasião para chegar a um novo acordo que seria firmado em Paris em 2015. Por ser no Peru, é a oportunidade também para que a sociedade civil latino-americana assuma a liderança do movimento mundial contra a mudança climática. Teria que começar já.
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